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Eu também cuspi no Bolsonaro

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A web se dividiu entre os que concordaram ou discordaram da atitude de Jean ao cuspir em Bolsonaro após se desrespeitado e xingado pelo militar


A internet se encheu de prós e contras após o episódio protagonizado ontem na Câmara dos Deputados, quando o deputado federal Jean Wyllys disparou uma cusparada em direção a Jair Bolsonaro.

O ato de defesa de Jean nada mais foi do que a reação as ofensas que recebeu, quando após anunciar seu voto foi chamado de "veado", "queima-rosca" e "boiola" pelo próprio Bolsonaro. Como único parlamentar gay assumido na Câmara dos Deputados, Jean carrega sobre sí um peso forte, a representatividade da comunidade LGBT, apesar de alguns integrantes dessa minoria não verem o deputado como um representante da causa, o fato é que sim, ele é!

Entre os que destacam a atitude de Jean como impensada, errada e desnecessária, vale lembrar que "o alvo" se trata de um racista, homofóbico e que inclusive ameaçou estuprar uma parlamentar. Não bastasse isso, Bolsonaro homenageou e dedicou seu voto a Coronel Ustra, um dos militares apontado como responsável por dezenas de mortes, torturas e perseguições durante a ditadura militar.

Como gay, negro e de origem pobre que sou, confesso que me senti representado por Wyllys, não por sua atitude simples e pura, mas pelo contexto que ela carrega. Ele não agrediu, ele se defendeu! Algo que muitas vezes eu e você não podemos ou não temos coragem de fazer quando passamos na rua e somos nós, os alvos de agressões verbais, iguais ou piores do que o deputado ouviu. Já passou o tempo em que ouvíamos isso e permanecíamos calados. 

Defensor da ditadura militar , Bolsonaro vez ou outra reforça publicamente seu discurso de violência contra gays, racismo e misoginia.


Já dizia Malcom X, é necessário “não confundir a reação do oprimido com a violência do opressor”, mas por um lado há quem insista em cometer esse erro. Negar a legitimidade da reação de Jean, é automaticamente empoderar a ação de Bolsonaro e reforçar décadas de opressão e violência que tivemos de ouvir calados. É isso mesmo que vocês querem fazer?! 

Bolsonaro já cuspiu na minha cara dezenas de vezes quando publicamente declarou que preferia ver o filho morto, do que com um "bigodudo por aí", ou quando afirmou que se visse dois homens se beijando na rua não hesitaria em "bater" neles. Me desculpem aos que discordaram do ato, mas eu achei válido, necessário, louvável e digo mais, eu também cuspiria no Bolsonaro e não apenas por mim, mas por cada gay que já foi morto, agredido, expulso de casa e desrespeitado na rua, graças a pessoas que legitimam e reverberam esse discurso publicizado por Bolsonaro e sua corja.

Repito: eu também cuspi no Bolsonaro!
Fiz isso agora quando escrevi esse texto e vou fazer isso enquanto for necessário. Faço questão de citar Jean Wyllys quando ele diz "eu não saí do armário para ficar quieto ou com medo desse canalha". Eu não vou apoiar e nem defender o opressor, não foi violência, foi a reação do oprimido!

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