Tudo começou quando um texto intitulado "Querido Ex" surgiu na minha timeline do Facebook. Era estranho entender porque alguém iria se dirigir ao ex-namorado como "querido" e ainda por cima escrever uma "carta" para ele. Isso chamou minha atenção e entre palavras e frases aquele texto fez todo o sentido para mim e talvez para qualquer um que um dia amou um ex.
Obra do escritor Rafael Koerich, o texto "Querido Ex" viralizou nas redes sociais, acumulando mais de 12 mil curtidas, cercas de 2.700 compartilhamentos e incontáveis lágrimas, suspiros e reflexões entre seus leitores. [CLIQUE AQUI PARA LER O TEXTO] Logo em seguida surgiram "A resposta" e "Tréplica" e o que até então eram textos postados numa rede social, acabou se tornando um projeto, um livro.
"Querido Ex" reúne cartas, conversas, e-mails e muitas histórias que envolvem Rafa e Nando. Inspirado na vida do próprio autor, o agora livro, conta uma história verídica de amor, traição e superação. O projeto que está em fase de financiamento pode ser apoiado por qualquer pessoa. Você pode contribuir fazendo sua doação na página do "Querido Ex" no catarse e já garantindo seu exemplar [CLIQUE AQUI].
Nós conversamos com Rafael sobre o projeto, as inspirações e o processo de criação de "Querido Ex". O resultado desse bate papo vocês conferem aqui:
Sobre o seu trabalho atual, como surgiu a ideia de escrever o livro e como foi o processo de criação de "Querido Ex"?
RK- Querido Ex é baseado a na minha vida. Durante muito tempo sofri por causa de uma traição. Busquei muitas formas pra tentar me "curar": igreja, psicólogo, psiquiatra, muita terapia, mas só através da literatura eu conseguir exorcizar a minha dor.
É, de certa forma, um trabalho autobiográfico? A arte literária tem te ajudado a se conhecer melhor e entender a humanidade?
RK - Totalmente. É a minha vida em cada detalhe. Cada vírgula conta um pouquinho de mim. A literatura, na minha vida, vai muito além de auto conhecimento. Ela me mostra o sentido da vida e me faz entender o porquê da minha existência.
Como superar o fim de um relacionamento? O livro seria uma forma de exorcizar o passado?
RK - Não existe regra. Superei escrevendo. Minha melhor amiga superou com um novo amor. Meu melhor amigo superou com comida. Mas no geral, acho que a arte é uma grande aliada. O livro foi, com certeza, a certeza de que não existia mais nada. Ao ponto de eu conseguir escrever sem sentir dor. Foi o ponto final.
Como você tem observado a comunidade gay em relação ao amor, ao relacionamento estável e saudável? Existe amor?
RK - Eu escrevo pra um projeto chamado Entreguei. É um blog que conta histórias de amor LGBT. Não vejo diferença nenhuma do relacionamento hétero, para o relacionamento gay. E não me venham com esse papo de "gays não são fieis". Fidelidade tem muito mais tem a ver com caráter do indivíduo e não com a sua sexualidade.
Sobre "Querido Ex", o livro mostra uma linda história de superação. Qual a maior mensagem que você deseja passar com sua obra?
RK - Quero mostrar que a vida segue em frente. Que é possível superar, pode demorar semanas ou anos, mas é possível. Também é possível que você não supere, mas ainda assim você consegue continuar a sua vida e voltar a ser feliz. Tudo no seu tempo.
Rafael, de onde surgiu o seu interesse pela literatura e pela escrita?
RK - Meu avô é o grande responsável por essa minha paixão pela literatura. Ele sempre me deu muitos livros e quando eu era criança ele pedia para que eu escrevesse histórias pra ele. O sonho do meu avô sempre foi ser escritor, mas ele não publicou nada, apesar de escrever super bem.
Quais escritores influenciaram o seu processo de criação literária, desde o início?
RK- Eu sou um completo apaixonado pela Clarice Lispector, já devorei todas as obras dela e quanto mais eu leio, mais me apaixono. Tenho outros grandes influenciadores, mas confesso que hoje consigo ver muito machismo em suas obras, por isso prefiro citar apenas Clarice.
Ainda é difícil encontrar livros com temática gay (LGBT) nas livrarias. Por que isto acontece?
RK - Ainda rola muito preconceito. Quando eu era um total anônimo, recebi vários nãos de algumas editoras, justamente por ser um romance gay. O conto de fada, infelizmente, ainda é o que mais vende.
Há muita polêmica sobre a questão da literatura gay, se o termo ajuda a segregar as obras ou facilitam aos leitores a encontrar histórias com as quais possam se identificar. Levando em conta a universalidade da literatura, é fundamental essa rotulação de "literatura gay" ou com o passar do tempo, será uma classificação desnecessária?
RK - Acho necessário. Facilita para o leitor na hora de procurar o livro. O público LGBT precisa ser representado dentro da literatura. Hoje, o nosso espaço maior está nas lojas virtuais, nas livrarias, o nosso espaço é quase zero. Tenho orgulho em ser um escritor focado no conteúdo LGBT. Tenho muitos leitores heterossexuais, no entanto, escrevo exclusivamente para o público LGBT.
*PLUS: No vídeo abaixo o ator Rafael Ferrero interpreta o texto de "Querido Ex"
Texto: Thiago Silva
Entrevista: Geraldo Pontes